Por Carla Loop
Da Página do MST
Nesta terça-feira (09), as 2.500 famílias do Acampamento Herdeiros da Terra de
1º de Maio, em Rio Bonito do Iguaçu (PR), puderam comemorar o direito a
educação e a escola do campo, com a inauguração da Escola Itinerante no
acampamento.
Ao todo, cerca de 590 estudantes do acampamento poderão estudar na escola.
Serão formadas 14 turmas, divididas entre a Educação Infantil com 280
estudantes; 80 estudantes do Ensino Fundamental; 30 de Ensino Médio; e 200
estudantes de Educação de Jovens e Adultos (alfabetização e EJA II - Ensino
Fundamental).
Com exceção das atividades do Ensino Médio que começará em 2015, todas as
outras turmas já se iniciam neste ano, que contarão com 28 educadores e mais
três pessoas do administrativo. Toda a construção da escola foi realizada por
meio do trabalho voluntário dos acampados, inclusive para ela iniciar suas
atividades pedagógicas.
A Escola Itinerante é uma escola pública que funciona dentro dos acampamentos
organizados pelo MST, voltada à escolarização de crianças, adolescentes, jovens
e adultos acampados em todo o país.
Como explica Juliana de Mello, dirigente do setor de educação no acampamento, a
escola itinerante forja uma nova pedagogia gestada pelos próprios
trabalhadores. Sua principal função é atender as pessoas que estão em processo
de luta, e o Movimento tem a tarefa de ajudar a organizar a escola.
“Construir uma escola Itinerante é uma oportunidade de fortalecer a luta do
povo, de organizar mais um espaço educativo do Movimento Sem Terra, para que os
sujeitos que estão em formação e inseridos no acampamento possam aprender que
lutar e construir uma nova sociedade é tarefa de todos, e desde já, exercitarem
isso”, acredita Juliana.
Segundo Juliana, um dos princípios básicos do Movimento é o compromisso com a
educação escolar, que visa garantir “que os educandos sejam respeitados,
sobretudo no acesso ao conhecimento a partir da realidade em que vivem”.
Com explica a educadora, as famílias acampadas não reivindicam apenas o direito
à terra, de plantar e colher alimentos saudáveis, mas também de ter acesso a
escola, a saúde, a comunicação, cultura e qualidade de vida.
“Desde o acampamento as famílias vão experimentando uma nova forma de construir
as relações, baseadas na solidariedade, na cooperação, no cuidado com a terra e
com a vida”, ressalta.
As milhares de famílias Sem Terra do Acampamento Herdeiros da Terra de 1º de
Maio reivindicam a Fazenda Rio das Cobras, explorada pela empresa Araupel.
Segundo eles, a área, ocupada desde 17 de julho, foi grilada pela empresa, que
atua principalmente na exportação de madeira de floresta nativa e de madeiras
plantadas. Por isso, as famílias reivindicam a desapropriação da fazenda de
cerca de 35 mil hectares para fins de Reforma Agrária.
O mundo dá voltas
A primeira Escola Itinerante no Paraná foi oficialmente reconhecida em 2003, e
aconteceu justamente na segunda ocupação das terras nulas sob domínio da
Araupel, em Quedas do Iguaçu.
As duas escolas foram batizadas com os nomes de Chico Mendes e Olga Benário. Na
época, mais de 1000 crianças, jovens e adultos foram matriculadas. Atualmente,
ambas as escolas se integram a rede estadual de ensino, e se constituiram como
Colégios Estaduais do Campo, reconhecidos e mantidos pelo Estado do Paraná.
O Colégio Estadual do Campo Iraci Salete Strozak, no assentamento Marcos
Freire, em Rio Bonito do Iguaçu, é a Escola Base das Escolas Itinerantes no
Paraná, que funciona como suporte e reconhecimento legal das escolas
itinerantes.
Além de viabilizar as matrículas e cuidar da parte documental, a Escola Base
garante um projeto político pedagógico vinculado aos princípios do MST, a
Pedagogia do Movimento e a construção da Educação do Campo.
Atualmente, o Paraná conta com 12 Escolas Itinerantes em diferentes regiões. O
desafio dos Sem Terra é garantir que em todos os acampamentos de trabalhadores
rurais exista uma escola itinerante.