Organização do Trabalho pedagógico da Escola
Iraci Salete Strozak e as Escolas Itinerantes
Uma escola organizada em ciclos de formação humana
O Colégio Estadual Iraci Salete Strozak – Educação Infantil, Ensino
Fundamental, Médio e Normal é organizado em Ciclos de Formação Humana. Este
colégio é a Escola Base das Escolas Itinerantes do Paraná, que funcionam nos
acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Escolas Itinerantes vinculadas ao Colégio Iraci Salete:
Nome das Escolas
Itinerantes
|
Educação
Infantil
|
Ensino
Fundamental
|
Ensino
Médio
|
Nº de
Educandos
|
Acampamento
|
Município
|
|
Anos Iniciais
|
Anos Finais
|
||||||
Escola Itinerante Oziel
Alves
|
X
|
X
|
28
|
Casa Nova
|
Cascavel
|
||
Escola Itinerante Zumbi
dos Palmares
|
X
|
X
|
X
|
X
|
130
|
1º de Agosto
|
Cascavel
|
Escola Itinerante
Sementes do Amanhã
|
X
|
X
|
70
|
Chico Mendes
|
Matelândia
|
||
Escola Itinerante Paulo
Freire
|
X
|
X
|
20
|
Reduto de Caraguatá
|
Paula Freitas
|
||
Escola Itinerante
Camihos do Saber
|
X
|
X
|
X
|
X
|
180
|
Maila Sabrina
|
Ortigueira
|
Este colégio tem seu currículo organizado em Ciclos de Formação
Humana, com os quais busca-se contrariar a lógica escolar excludente da
seriação pautando a organização do trabalho pedagógica numa perspectiva
emancipatória.
O Ciclo da Infância na Educação Infantil, I Ciclo, compreende o atendimento
a crianças de 4 e 5 anos de idade, com o trabalho unidocente.
Quanto
ao Ensino Fundamental este passa a adequar-se progressivamente à ampliação do
Ensino Fundamental de 9 anos de duração, com matrícula obrigatória dos
educandos a partir de 6 anos de idade, no primeiro ano, iniciado em 2007. O
Ensino Fundamental organiza-se em três ciclos: INFÂNCIA- I Ciclo: em que os
educandos precisam construir o domínio da alfabetização; PRÉ-ADOLESCÊNCIA- II
Ciclo: ampliação da alfabetização e;
ADOLESCÊNCIA- III Ciclo: o foco passa a ser a estruturação de conceitos;
estando organizada em nove anos,
atendida de forma unidocente nos 5 primeiros anos e multidocente nos 4 anos finais.
O Ensino
Médio é o ciclo da juventude na escola, com suas dúvidas e certezas, o foco
passa a ser como os conteúdos contribuem para entender o mundo onde vivem as
relações com o mundo do trabalho, problematizando as inseguranças frente ao
novo e as escolhas.
Assim
se organiza o Ciclo em nosso Colégio:
CICLOS DA VIDA HUMANA
|
CICLO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
|
IDADE
|
ANOS
|
INFÂNCIA
|
Ciclo único – Educação Infantil
|
4 anos
5 anos
|
ED. INFANTIL
|
I Ciclo do Ensino Fundamental
|
6 anos
7 anos
8 anos
8 anos
|
1ºANO
2ºANO
3ºANO
|
|
CLASSE INTERMEDIÁRIA
|
|||
PRÉ-ADOLESCÊNCIA
|
II Ciclo do Ensino Fund.
|
9 anos
10 anos
11 anos
|
4ºANO
5ºANO
6ºANO
|
CLASSE INTERMEDIÁRIA
|
|||
ADOLESCÊNCIA
|
III Ciclo do Ensino Fund.
|
12 anos
13 anos
14 anos
|
7ºANO
8ºANO
9ºANO
|
CLASSE INTERMEDIARIA
|
|||
JUVENTUDE
|
Ciclo único – Ensino Médio
|
15 anos
16 anos
17 anos
|
1ºANO
2ºANO
3ºANO
|
Tabela 2 - Organização da escola nos Ciclos de Formação Humana
O que são os ciclos de Formação
Humana?
Ciclo é movimento, não nos deixa
parados, é processo, é relação, é agrupar e reagrupar-se para aprender e
ensinar. O currículo por Ciclos vem para renovar os métodos de organização e de
ensino. Se a estrutura curricular por Ciclos nos remete a pensar sobre os
sistemas de ensino, também nos permite pensar sobre a intervenção didática. Os
Ciclos exigem de nós educadores um novo olhar sobre o sujeito aprendente e nos
desafiam para novas concepções e métodos de avaliação como, por exemplo, a
promoção e não o fracasso dos sujeitos.
Os ciclos se fundamentam no processo
de desenvolvimento humano em sua temporalidade. Eles não significam apenas uma
mudança de estrutura da escola, ainda que essa organização também interfira nos
modelos de ensino. Ou seja, mesmo que consideremos que a mudança da estrutura
em Ciclos seja mais importante, é na prática educativa que podemos prever ou
interferir no desenvolvimento do trabalho pedagógico. Ainda assim, pensar os
tempos humanos na escola é também pensar como estes vão estar se relacionando
como um tempo escolar mais longo e também porque se quer romper com o modelo
seriado e fragmentado da escola. Como
vimos cada ciclo compreende três anos, assim o tempo do educando na escola
aumenta. Os objetivos, metas e conteúdo são estabelecidos a partir desta
perspectiva e é este o tempo de educando tem para a aprendizagem e
desenvolvimento.
Por que adotamos o ciclo na Escola?
A adoção dos ciclos exige uma mudança significativa nas concepções que dão sustentação às práticas pedagógicas e à própria consolidação das mesmas. Se representarem apenas mudança de forma e não de conteúdo, será uma mudança inócua. Entendemos, então que organizar a escola em Ciclos de Formação Humana significa romper com a fragmentação do saber e alargar os tempos de aprendizagem e desenvolvimento, possibilitando a convivência com a diversidade. Assim sendo, faz-se necessário refletirmos sobre nossa concepção de homem, sociedade, desenvolvimento e aprendizagem. Não representa, portanto, apenas uma organização temporal, mas uma preocupação com o processo permanente de desenvolvimento e aprendizagem dos educandos.
Os ciclos incorporam elementos como a
auto-organização dos(as) educandos (as). Dalben (2000, p. 21) segue dizendo:“O
ciclo de formação incorpora a formação global do sujeito, considerando a
diversidade de ritmos no processo educativo. A escola caberia o papel de criar
espaços de experiências variadas de geração de autonomia e da produção do
conhecimento sobre a realidade”. o estudo da realidade e a atualidade
Estudos a partir do referencial teórico de
Vygotsky e Arroyo (1999), além do conjunto de experiências em andamento com o
trabalho dos Ciclos de Formação Humana, comungam da idéia de que o sujeito
aprende e se desenvolve nas relações, entre os sujeitos, com o contexto e com o
objeto a ser conhecido, mas fundamentalmente na qualidade e intensidade vivida
pelos sujeitos nestas relações. Neste sentido o adulto tem o papel de mediador,
provocador e organizador das relações as quais devem ser ampliadas e
aprofundadas processualmente de sujeito para sujeito e de ciclo para ciclo,
superando a ideia e a prática da reprovação ou retenção.
Processo de Avaliação: O objetivo central desta é tomar a
realidade vivida no interior da escola e suas relações com o contexto para
desde então construir possibilidades de intervenção político-pedagógica no
currículo e na escola. Ela assume ainda o papel de redimensionar a ação
pedagógica bem como subsidiar permanentemente educadores(as) e a escola na
condução do processo educativo. Faz-se isto desse os Conselhos de Classe
Participativos, os Agrupamentos e Reagrupamentos, as Classes Intermediárias, as
Pastas de Acompanhamento, os Cadernos de Avaliações e os Pareceres Descritivos.
A escola definiu critérios e instrumentos possíveis e necessários para a
formação que propusemos a efetuar. É preciso clareza que cada educando é um ser
único, com relações específicas e por isto reage de maneira diferenciada a cada
situação. Por isto nosso processo
avaliativo traz presente à recuperação, a qual o educando tem direito e é dever
do coletivo oferecer. Fazemos esta desde atividades combinadas no coletivo de
educadores dos ciclos, dos reagrupamentos e das Classes Intermediarias.
É com
este entendimento que a Escola propõe um processo de avaliação sistemático e
coerente, com critérios e instrumentos bem definido, porém abertos a sugestões
e contribuições que possam contribuir para formação humana dos estudantes.
1.
Critérios e instrumentos de avaliação: O trabalho com as avaliações perseguirá a orientação de trabalharmos
com critérios e instrumentos de avaliação. Como instrumentos indica-se: provas
orais e escritas, individuais e coletivas desde os seminários; apresentação
oral e escrita; resolução de lista de atividades para fixação; pesquisas e
trabalhos bibliográficos; pesquisa de campo; pesquisa laboratorial;
apresentação de painéis e murais; jornada de estudos dirigidos; jornada de
estudos individual; criação de folders; produção textual, simulado e prova de
concurso entre outros que devem ser previstos nos planos docentes de cada
profissional, com acompanhamento da Equipe Pedagógica. Os critérios de
avaliação também devem compor esse trabalho, indica-se: a apreensão do
conhecimento, a participação e assiduidade, o interesse e a busca pelo
conhecimento, a qualidade na realização dos trabalhos, a problematização e o
questionamento, a tomada de decisão e iniciativa, entre outros. Porém sempre os
instrumentos e critérios devem ser combinados com os educandos e educadores.
2.
Conselho de Classe Participativo
O
Conselho de Classe Participativo é espaço-tempo de efetivar o que chamamos de
avaliação dialógica, de chamada para o compromisso com o estudo e a formação e
não para obter notas. Ele é também, um espaço de divisão do poder da
instituição escolar, avalia-se cada sujeito e cada instância da escola
envolvida no processo educativo. É na perspectiva de “fôlego”, (Luckesi,1986)
que os Conselhos de Classe Participativos colocam-se com esta função,
espaço-tempo, participativo e democrático com a finalidade de avaliar e
diagnosticar o processo ensino aprendizagem e a formação humana como um todo no
conjunto da escola.
Avaliar
é parar e olhar o que foi feito e como foi feito, tendo como referência os
objetivo a que nos propomos e para isso é fundamental o olhar dos diferentes
atores envolvidos nesse processo, para que a escola e a sua pedagogia sejam
visto dos diferentes lugares que ocupamos e que nossos papéis possam ser
avaliados por estes olhares.
Os
Conselhos de Classe Participativos acontecerão ao final de cada trimestre,
sempre a partir da metodologia proposta, que apresenta três momentos básicos: 1º Momento: No primeiro momento
cada educando deverá elaborar uma auto-avaliação em forma de parecer descritivo
do seu desempenho em classe, levando em consideração os elementos da
aprendizagem e de participação coletiva na turma. O educador coordenador fará a
avaliação da turma considerando os elementos arquivados na Pasta de
Acompanhamento e a avaliação do coletivo dos educadores. Para isso a Equipe
Pedagógica da escola apresentará anteriormente os critérios. 2º Momento: No segundo momento o
educador e educando coordenadores da turma com o apoio da Equipe Pedagógica
sistematizarão as auto-avaliações elaborando um parecer descritivo da turma e
do colégio segundo os critérios estabelecidos em cada período. 3º Momento: No terceiro momento
será realizado um encontro onde o educando e educador coordenadores da turma
apresentarão a sistematização.Todos os envolvidos no processo de avaliação
serão ouvidos e após complementarão com análises, sugestões, questionamentos,
desafios e até mesmos alertas e quais os passos a serem seguidos, como:
replanejamento dos educadores, fazer conversa com os pais, registrar em atas os
combinados e expondo-os. Participam
deste momento a direção e/ou direção auxiliar, equipe pedagógica, os educandos
e educadores da turma, bem como pais, membros do Conselho Escolar, APMF.
3. PASTA DE ACOMPANHAMENTO
A PASTA DE
ACOMAPANHAMENTO é um espaço e instrumento de registro do desenvolvimento e
aprendizagem da escrita dos educandos. A escrita é conhecimento, ela é a
síntese do aprendizado em cada período. Por isto o educador deve valorizá-la e
acompanhá-la, independente da área que trabalhe. Escrever, produzir,
sistematizar, acompanhar não coisa somente de professora de português, é sim
tarefa de todo o coletivo.
Por isto
mensalmente cada educador, definido anteriormente pela coordenação pedagógica,
deverá conduzir a elaboração da produção escrita das turmas, definindo o tema e
a tipologia textual, esta deverá ser diversificada. Tendo clareza da
importância de fazer as revisões necessárias para a escrita e utilizá-las
posteriormente para planejamento e replanejamento de suas aulas.
O Colégio dispõe
de folha padrão onde deve ser passada a versão a limpo da produção escrita. O
texto é lido e feito observações pelo educador aplicador e pelos demais
educadores da turma, porém o texto não deverá sofrer alteração. Ele servirá para estudos, comparações e
avaliação de que ações devem ser encaminhadas com cada educando nas próximas
aulas.
O acompanhamento
é também dos educandos que irão colocar seus novos textos nas Pastas e também
observar os anteriores para ver as evoluções e retrocessos. As famílias também
devem ter acesso às produções, sempre que comparecerem a escola terá a
disposição as Pastas para acompanhar o desenvolvimento e aprendizagem de seus
filhos.
4. Cadernos de Avaliações
Os cadernos de Avaliações são
espaços de registros do desenvolvimento e aprendizado pelos educandos dos
conteúdos trabalhados nas diferentes disciplinas durantes os semestres. As
anotações no caderno é uma tarefa de todos. Não temos mais a tarefa de passar
notas, fazer médias, vamos agora escrever explicando o desenvolvimento de
nossos educandos. Esta escrita servirá de embasamento para o professor
coordenador estruturar o parecer parcial e final.
Mais
coerente, com dados claros e precisos, superando a meritocracia e a
classificação os cadernos descrevem a aprendizagem real, os limites e
possibilidades, as ações dos educadores, da equipe pedagógica e da família.
Sempre disposição de todos os professores, da coordenação pedagógica e da
família, ele deve ser levado a sala de aula, para observações pertinentes, pois
além dos resultados das avaliações formais, os cadernos são espaços de
anotações das relações sociais que os educandos estabelecem. São anotações em diferentes aspectos e
dimensões da formação humana, destacando aspectos da apropriação do
conhecimento, questões atitudinais e comportamentais, das relações de
convivência, iniciativa no trabalho;
As
anotações precisam ser pertinentes, claras, explicativas e propositivas,
permanentes, não somente ao final do semestre, para fazer os pareceres. Ao
anotar precisamos dizer o que foi sendo proposto para o educando avançar, são
aquelas dicas que vamos dando durante as aulas. Todo ser humano tem suas
positividades e seus limites, ao escrever vamos destacar as duas dimensões;
Toda
conversa com pais, recomendações, advertências, entre outros, também
registraremos são registradas no caderno;
5. Pareceres Descritivos
O parecer descritivo cumpre parte a função de dar
elementos sobre a aprendizagem dos educandos, o que foi aprendido e o que ainda
precisa ser. Descreve com fundamento científico os conhecimentos trabalhados e
os objetivos previstos em cada período. È o documento oficial do resultado da
aprendizagem e do desenvolvimento, ao invés de fornecer um boletim com médias
aritméticas, que pouco ou nada dizem pais, estudantes, escolas que os recebem
os educandos deste colégio, terão acesso ao um dossiê descritivo, com limites,
possibilidades e necessidades que cada um apresenta.
A tarefa de sistematizar a versão
preliminar ou primeira versão do parecer será do professor coordenador da
turma, para isto recorrerá ao Caderno de Avaliação, as Pastas de Acompanhamento
e quantos outros recursos se fizerem necessários. De posse desta versão será
feita a leitura para todos os educadores da turma, que farão as revisões e
correções pertinentes, para só então termos a versão final. Nas turmas com
unidocência o processo é diferenciado, pois um único educador trabalha todas as
disciplinas.
6.
Agrupamento e reagrupamento
A
organização em Ciclos de Formação Humana prevê os agrupamentos referencias e os
reagrupamentos. Os agrupamentos referências são as turmas de origem, onde os
educandos são matriculados e os reagrupamentos são novas turmas constituídas
sempre que necessário.
O processo de agrupar e reagrupar os sujeitos na
escola para aprender e se desenvolver colocam a escola em movimento, forja-se
uma escola onde não se cristaliza as possibilidades de viabilizar o aprendizado
e o desenvolvimento de todos, o que inclui os profissionais da educação. Esta é
uma escola que cria e re-cria espaços e tempos de aprender relações e
conhecimentos.
Os agrupamentos/turmas na educação básica em
nosso projeto terão no máximo vinte (20) educandos no primeiro e segundo ciclo
e de vinte cinco (25) educandos no terceiro e quarto ciclos, sendo que trinta
(30) para o quinto ciclo. No agrupamento
referência, os educandos permanecerão a maior parte do tempo do dia e da
semana para construção do conhecimento e das relações próprias de cada idade.
Além do agrupamento
referência, por idade, as crianças poderão vivenciar os reagrupamentos que ocorrem entre as diferentes idades no mesmo
ciclo e entre os diversos ciclos. Quando, no mesmo ciclo, reagrupamento
horizontal e o reagrupamento vertical, entre sujeitos dos diferentes ciclos,
isso para que os educadores possam trabalhar com as necessidades específicas do
desenvolvimento de cada grupo.
O reagrupamento poderá
se dar em torno das necessidades[1] e
potencialidades[2]
dos sujeitos (o sujeito aprende e se desenvolve nas relações entre os sujeitos,
com o contexto e com o objeto a ser conhecido, neste caso o conteúdo), ou seja,
é um tempo e espaço para possibilitar novas relações com outros sujeitos,
educandos e educadores. Neste momento, preferencialmente, serão grupos menores
para garantir o atendimento, eles podem acontecer semanalmente, sempre que o
coletivo de educadores do ciclo julgar necessário.
Precisamos nos dar conta
de que ao agruparmos todos os educandos por necessidades e potencialidades,
estaremos garantindo que todos avancem. Isso deve tirar de nossa prática em
sala de aula a idéia de classes “parelhas”, homogêneas, pois as diferenças no
desenvolvimento são condições para o processo educativo. Avança aquele que tem
maiores limites, mas avança aquele que já está num estágio desejado. Na escola
dos ciclos todos devem aprender. Afinal este é um direito do sujeito e um papel
de educadores como profissionais da educação.
7. Classe Intermediária
Ao
final de cada ciclo, caso o educando não tenha atingido o proposto, este
freqüentará uma Classe Intermediária
em contraturno. Esta consiste em ser uma turma entre um ciclo e outro, por
tempo indeterminado, tendo sua matrícula sempre na turma seqüente superando a
reprovação e como garantia de efetiva aprendizagem e desenvolvimento. Este
processo se dará apenas no Ensino Fundamental.
A classe intermediária será organizada em torno das áreas de
conhecimento: Área da Linguagem; Área de Ciências da Natureza e Área das
Ciências Sociais, sendo que cada uma terá cinco horas/aula semanais totalizando
15h/a. Seu conteúdo será definido desde o diagnóstico das necessidades
registradas na Pasta de Acompanhamento.
A classe intermediária supera as turmas de Apoio a Aprendizagem ou o
Reforço Escolar na medida em que sua intencionalidade é outra, não é reforçar o
que não aprendeu e nem apoiar a aprendizagem que acontece na turma referência.
Ela tem como objetivo superar a necessidade que o educando apresenta e o impede
de ter seu pleno desenvolvimento e aprendizagem dos conteúdos. Partimos do
princípio que todos são capazes de aprender, em ritmos, tempos e metodologias
diferentes, o educador que assume esta turma precisa ter presente a necessidade
do educando e variadas opções metodológicas para superá-la, abertura para dialogar
com os educadores referências, com a coordenação pedagógica, família e quantas
outras pessoas possam contribuir para superação dos limites. Registro claro e
preciso da evolução ou não do educando, instrumentos utilizados durante e
período que ele freqüentou a Classe.
A Classe Intermediaria é uma opção da família, que precisa assumir
junto com a Escola a tarefa de superar os limites que os educandos possam
apresentar por isto a família recebe um termo de compromisso e ciência de suas
tarefas.
Assim é a Escola do Ciclo, um lugar onde todos têm responsabilidades
com o processo educativo. Não somos apenas nós os educadores que ensinamos. A
família, a comunidade são importantes parceiros nesta função.
Opção metodológica
O
trabalho pedagógico em nossa Escola é voltado para a Educação do Campo,
trabalhando conteúdos curriculares, metodologias e com organização escolar
própria, adequando-se à natureza do trabalho camponês, conforme Art. 28, itens
I, II e III da LDB.
Art. 28. Na oferta de
educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as
adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de
cada região, especialmente: I - conteúdos curriculares e metodologias
apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II -
organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases
do ciclo agrícola e às condições climáticas; III - adequação à natureza do
trabalho na zona rural.
Esta proposta de educação
exige das práticas educativas dos educadores a permanente relação entre
pesquisa da realidade[3]
e a organização do conhecimento desde os eixos propostos nas diretrizes da
educação do campo[4] da
SEED, assumidas como modo de organização do trabalho pedagógico. Assim a cada
início de semestre é tempo de parar olhar para a realidade e a partir dela
estabelecer os conteúdos e as amarrações que serão feitas. É tempo também de
devolver à comunidade escolar aquilo que foi estudado, o que foi aprendido, o
elencar temáticas para o próximo período letivo.
Dentro
desta organicidade os Ciclos de Formação Humana, colocam-se em movimento,
articulando a Pesquisa da Realidade, os Eixos da Educação do Campo, as
Disciplinas e/ou Áreas do Conhecimento e os Conhecimentos Escolares
(conteúdos), isso tudo como forma de garantir o conhecimento a serviço da
formação humana.
Sabemos
ainda que cada idade têm potencialidades e necessidades próprias para aprender
certos conhecimentos, que estamos imersos numa cultura, a cultura camponesa, a
cultura popular e a universal, a mídia, o mercado e em relação permanente com
conhecimentos e saberes diferentes com múltiplas situações e contextos que
devem compor o currículo escolar.
A
partir da pesquisa participante, todo planejamento do trabalho pedagógico da
escola organiza-se em três grandes momentos: Estudo da Realidade (ER),
Organização do Conhecimento (OC) e Aplicação do Conhecimento (AC), mais
detalhados a seguir.
Estudo da Realidade (ER): O estudo da realidade
em que a escola se situa, pode ser através das Situações codificadas: que são a Escolha de falas, de fotografias e/ou
filmagens da região que contenham de forma implícita contradições da
problemática local. A perspectiva é a de estar resgatando da vivência dos
alunos situações que são significativas para a comunidade e que se apresentam
como limites explicativos na compreensão de sua realidade.
Dinâmicas: São apresentadas essas questões
e/ou situações para discussão com educandos. Sua função é fazer a ligação do
conteúdo com situações reais que educandos conhecem e presenciam, para as
quais, provavelmente, não dispõem de conhecimentos sistematizados suficientes
para interpretar total ou corretamente. A problematização poderá ocorrer pelo
menos em dois sentidos. De um lado, pode ser que o educando já tenha noções
sobre as questões colocadas, fruto de sua aprendizagem anterior, na escola ou
fora dela. Suas noções poderão ou não estar de acordo com as teorias e as
explicações das Ciências, o que tem sido chamado de "concepções alternativas"
ou "conceitos intuitivos" dos educandos. A discussão possibilita que
essas concepções surjam. Por outro lado, a problematização poderá permitir que
educandos sintam necessidade de adquirir outros conhecimentos que ainda não
detêm, ou seja, coloca-se para ele um problema a ser resolvido. Eis por que as
questões e situações devem ser problematizadas. Neste primeiro momento,
caracterizado pela compreensão e apreensão da posição dos educandos frente ao
assunto, é desejável que a postura do educador seja mais a de questionar,
lançar dúvidas, do que a de responder ou fornecer explicações. Quando se
considera a programação é este o momento em que se explora a experiência do
educando, ajudando-o a olhá-la de forma distanciada. Envolve, necessariamente,
descrição das situações de vida, de modo quantitativo e qualitativo, buscando
as relações que podem ser estabelecidas nesse primeiro momento, sistematizando
e ampliando coletivamente as interpretações que os educandos já têm.
Organização
do Conhecimento (OC): Neste
momento, o conhecimento necessário para a compreensão da problematização
inicial será sistematicamente estudado sob orientação do educador Serão
desenvolvidas definições, conceitos, relações. O conhecimento é programado e
preparado em termos instrucionais para que o educando aprenda de forma a, por
um lado, perceber a existência de outras visões e explicações para as situações
e fenômenos problematizados e, por outro, comparar este conhecimento com o seu,
podendo escolher o que usar para melhor interpretar aqueles fenômenos e
situações.
Aplicação
do Conhecimento (AC): Aborda
sistematicamente o conhecimento que vem sendo incorporado pelo educando para
analisar e interpretar tanto as situações iniciais que determinaram o seu
estudo, quanto outras situações que não estejam diretamente ligadas ao motivo
inicial, mas que são explicadas pelo mesmo conhecimento. Deste modo pretende-se
que, de forma dinâmica e paulatina, vá se percebendo que o conhecimento, além
de ser historicamente produzido, está disponível para que qualquer cidadão faça
uso dele e para isso deve ser apreendido. Caracteriza-se pela generalização e
transferência do conteúdo adquirido na Organização do Conhecimento, por uma
releitura da problematização feita no Estudo da Realidade, tendo sempre em
vista as possibilidades de ação sobre o real.
Coletivo de educadores de cada ciclo e sua formação
O processo pedagógico é
coletivo e assim precisa ser conduzido, enraizando-se junto à comunidade
tornando-se forte. A organização dos coletivos de educadores ocorre em três
níveis: coletivo de educadores da escola, coletivo de educadores de um curso
(infantil, fundamental, médio, formação de docentes) e coletivo de educadores
do ciclo.
Coletivo de
educadores do ciclo: reúne-se semanal, quinzenal e/ou mensalmente para
formação, para a realização da hora atividade, juntamente com a coordenação da
escola, realizando avaliações, estudos e planejamento.
Planejamento da
escola: São encontros mensais que envolvem todo o coletivo escolar. Neste
dia os educandos estarão envolvidos com as tarefas à distância.
Tarefa à distância:
É uma atividade pedagógica realizada mensalmente num tempo de 4 horas, em que
os educadores planejam e encaminham as atividades de pesquisa para os educandos
a serem realizadas juntamente com as famílias e a comunidade para
posteriormente ser trabalhada em sala de aula.
Grupos de pesquisa:
São constituídos a partir do interesse e da necessidade dos educadores que por
meio da pesquisa, do registro, do estudo e da sistematização aprofundam seus
conhecimentos em temas específicos e comunicam o saber produzido em seminários
de socialização e publicação, com certificação em parceria com a SEED e os
Núcleos Regionais de Educação e Universidades.
Acompanhamento às
escolas: Constitui-se de um espaço-tempo em que se realiza o trabalho de
mediação pedagógica entre educadores, coordenação pedagógica, direção, conselho
escolar, assessorias e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, tanto
nos momentos de formação como nos momentos do cotidiano escolar.
Cursos e Seminários:
Educadores participarão de momentos de formação promovidos por diferentes
instituições formadoras, diante de um planejamento prévio, garantindo que o
coletivo possa participar.
Conselho de classe:
Além do Conselho de Classe participativo ocorrerá também o conselho de classe
entre educadores ao final do ano letivo ou quando se fizer necessário.
Coordenadores
de Turmas: Todo professor será coordenador, é a pessoa escolhida pela turma
que irá acompanhá-la durante todo o ano, conhecer suas necessidades, dialogar
com elas. É a pessoa referência para mediar conflitos, encaminhar sugestões.
Sua tarefa será contribuir para o processo de auto-organização da turma e do
colégio; elaborar a primeira versão do parecer descritivo dos educandos de sua
turma e apresentar ao coletivo de educadores da turma e a equipe pedagógica de
seu respectivo ciclo; acompanhar e cobrar o registro pelo professor da turma no
caderno de avaliação; contribuir no
momento cívico de responsabilidade de sua turma; organizar, junto à Coordenação
Pedagógica, o Conselho de Classe Participativo da sua turma;
Obs: Para as turmas de formandos, será
responsabilidade dos coordenadores organizar as promoções e a formatura
juntamente com a direção, equipe pedagógica do Curso, APMF, Conselho Escolar e
pais;
Coordenador
do Ciclo: Cada Ciclo terá um coordenador pedagógico que
será responsável por orientar e acompanhar professores e educandos sobre o bom
funcionamento da escola e de seus projetos. Suas tarefas são: Orientar os
professores no planejamento e nas horas atividades; Coordenar o Conselho de
Classe de cada turma; Verificar os cadernos de Avaliações e garantir que sejam
preenchidos; Organizar os horários das aulas junto a direção; Garantir a
relação da Classe Intermediária com as turmas do Ciclo; Coordenar o Programa
Viva Escola das turmas que é coordenador.
Coletivo
de educados da Escola e sua formação
O
processo de formação humana implica em propiciar momentos de participação e de
decisão. Se quisermos sujeitos capazes de decidir, precisamos ensiná-los a
refletir e ter consciências das implicações que nossas decisões trazem. Não
queremos seres que apenas obedeçam a ordens mais que tenham capacidade de agir
por iniciativa própria, que saiba respeitar as decisões do coletivo, mas que
possa opinar e contribuir nas decisões deste coletivo. Que busque soluções para
os problemas e não esperem soluções prontas. Que exercite a crítica e
autocrítica; Que tenha atitude de humildade, solidariedade, mas também de
autoconfiança e ousadia; Compromisso com o coletivo, capacidade de trabalhar em
grupo e mediar os conflitos (MST, 2005). Assim os educandos também têm seus
coletivos.
Estudante
Coordenador de Turma: Os educandos coordenadores serão escolhidos semestralmente,
respeitando o princípio da rotatividade entre si e de gênero, bem como a
capacidade de comando ao mesmo tempo em que é comandado. São tarefas desta instância: Colaborar para que a turma
não fique sem professor, devendo avisar a coordenação pedagógica até 5 minutos
após o sinal; Auxiliar o professor(a) coordenador nas tarefas da
auto-organização da turma; Contribuir para o processo de auto-organização da
turma de do colégio; Coordenar juntamente com o professor coordenador o Momento
Cívico; Representar a turma sempre que for solicitado e comparecer sempre que
for convocado em reuniões, atividades extra-classe repassando todas as
informações as turmas; Ajudar na organização da sala, espaço exterior; Ajudar a
preservar o patrimônio escolar; Organizar junto com o professor (a) coordenador
(a) de turma o Conselho de Classe Participativo.
Grêmio
Estudantil/ Coordenação Geral da Escola: O Grêmio Estudantil é eleito a
partir da definição dos coordenadores de turma de pautam seus membros e
apresentam para a Assembléia Geral legitimar ou não. A tarefa é problematizar o
processo educativo no interior da escola. Pensar ações, propor mudanças.
Organizar os momentos de leitura, de avaliação, de trabalho na horta, de ações
culturais, de aplicação dos recursos financeiros, entre outras tarefas como a
formação política, o estudo de textos sobre organização e auto-organização.
Projetos
Extracurriculares/ Oficinas Pedagógicas: Tempo e espaço de capacitação e
qualificação, aprofundamento de temas, conteúdos, de conhecer o novo, de
exercitar a consciência crítica. Momento de conhecer outras linguagens como,
por exemplo, a do teatro, da música, do ritmo, da informática; das
manifestações culturais dos camponeses e de outros povos que produziram e
sistematizaram seus conhecimentos. De dialogar com o outro e de estabelecer
relações com o cotidiano, com o desejado e com o possível.
[1] NECESSIDADES:
optamos por este conceito em detrimento da idéia de dificuldade. Compreendemos
que o sujeito tem maiores ou menores necessidades de apropriação de certo
conceito e para isso a escola precisa organizar seu tempo e espaço para
desenvolvê-los, superando a linearidade e hegemonia. Portanto, precisamos
reagrupar para atender estas necessidades dos sujeitos aprendentes. As
necessidades podem ser na ordem do conhecimento como nas relações sociais e
elas devem ser superadas com ações de educadores e entre os próprios educandos,
portanto os educandos serão re-agrupados pelas necessidades.
[2] POTENCIALIDADES:Todo
sujeito é sujeito de potencialidades (Vygotsky). São
capacidades/potencialidades que o sujeito desenvolveu em sua formação e no
contexto social e, que podem ser ainda mais desenvolvidas de acordo com o
interesse de cada um e do coletivo, mas fundamentalmente com aquilo que iremos
oferecer na escola. São agrupamentos livres ou dirigidos, nas oficinas de
arte-educação (música, plástica, cênica...), nas áreas do conhecimento, na
organicidade do Movimento e outros, onde os mais experientes ensinam os ainda
menos experimentem em ofícios, conhecimentos e artes.
[3] Entende-se por pesquisa da
realidade o processo permanente de investigação do cotidiano da comunidade bem
como o conjunto das relações que dele emanam, colando-se em movimento,
assumindo a pesquisa participante como a grande metodologia da escola.
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