sexta-feira, 6 de março de 2015

Sindicato e ação política: a negação da política como herança da ditadura

Por Rudison Luiz Ladislau*

Nesses dias históricos de luta da educação paranaense, contra o retrocesso das políticas neoliberais, não há espaço para nenhum tipo de neutralidade, é uma conseqüência natural a necessidade de posicionamento político. A própria tentativa de ficar isento pressupõe uma escolha de lado, no caso, de quem está no poder.

Esse é um momento bastante interessante para fazer algumas análises, isto porque de certa forma fica evidente o posicionamento político da maioria dos sujeitos. De um lado aqueles que defendem o movimento de greve e de outros aqueles que tentam desqualificar e desmobilizar os educadores. Para esses últimos, uma das táticas encontradas tem sido a criação de boatos e desinformação, e para isso se diz de tudo, o objetivo é criar insegurança e medo. Outra tática tem sido a negação da política, e aqui cabe uma atenção a mais.

Falar de sindicato como ação política, bem como discutir a própria política partidária, ainda são temas delicados de abordar, mesmo no meio de educadores. Essa dificuldade de debate e entendimento, são marcas residuais  a serem superadas que tem a origem e demonstram a presença atual das forças de repressão ideológica da ditadura civil-militar, que dominou o país em um passado recente.

Durante a ditadura, aqueles que se opunham ao regime eram perseguidos, muitos desses foram presos, torturados, mortos e desaparecidos. No inicio foram os guerrilheiros, depois os militantes de partidos de esquerda, depois os sindicalistas, depois os intelectuais. O sindicalismo e a atividade política  tinham se convertido em crimes. Não existia a liberdade de expressão nem direito de reunião.

O medo do socialismo e comunismo se alastrava com a disseminação das representações desses como sendo coisa inferno e do capeta, ou seja, ia contra aos valores da família e da igreja, além dessas, outras acusações aterrorizavam o imaginário da população. A sua representação se dava pela cor vermelha.

A alienação chegava pelas TVs, jornais, filmes e outras tantas diversas formas de comunicação, até mesmo a forma escolar e as alterações nas matrizes curriculares buscavam uma educação apolítica. É disseminado o discurso da neutralidade. O objetivo maior é negar a política como algo determinante e mantenedor das relações e estruturas de opressão e poder.

Ainda hoje, muito se fala na formação crítica, mas poucos relacionam isso com a formação política. Ainda se concebe a política como algo externo aos indivíduos, como uma escolha pessoal, sem entender que o ser humano é um ser político por essência – desde o nascimento. É mantido os discursos apolíticos, orgulhosamente apresentado como se fosse um privilégio ou símbolo de grandeza e dignidade.

Para esses é preciso informar: a negação da política, em nenhum tempo histórico, em nenhum lugar do mundo, trouxe algo de melhor para a humanidade, apenas retrocesso e atos de desumanidade.

Mais do que nunca se faz necessário discutir política, analisar os projetos de sociedade em disputa, bem como pensar que ferramentas são essas: sindicato, partido, movimento social, central sindical. É preciso fazer as críticas necessárias, lutar e construir a nova sociedade da classe trabalhadora.


Referência: GALEANO, Eduardo. El fascismo en América Latina: carta a un editor mexicano. In.: GALEANO, E. Nosotros decimos no: cronicas 1963 – 1988. Buenos Aires: Veintiuno editores, 2012.
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* Professor na rede estadual de ensino. Dirigente da APP-Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná, Núcleo Sindical de Laranjeiras do Sul, ocupando atualmente a Secretaria de Políticas Sociais.

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